SINOPSE: Depois de fugir de seus pais negligentes e abusivos e cometer um crime violento, um esperto garoto libanês de 12 anos é condenado a cinco anos de prisão. Como protesto contra a vida que lhe foi imposta, ele processa o casal que o criou.
Como demonstra a sinopse, “Cafarnaum” conta a história de Zain, um menino de 12 anos que sofre abusos de seus pais e vive numa situação de extrema pobreza.
A necessidade de indicar este filme é maior do que simplesmente gostar ou não, pois retrata a realidade humana que nós - entregues às nossas próprias rotinas e aptos, de certo modo, a ignorar a realidade torturante a nossa volta - não conseguimos perceber, na maioria das vezes. Se olharmos o mundo com um tom acinzentado e perspicaz, sem deixarmos passar os detalhes, conseguiremos ver o mundo que está por trás desse mundo que vivemos – podemos chamar de o lado B da sociedade ou, porque não, um plano paralelo. Assim, assistir “Cafarnaum” é levar uma facada incessante e dolorosa a cada sequência do filme, é sentir o peso do mundo desigual que temos.

Nessa perspectiva, após assistir ao filme, fica a sensação do peso estrondoso que ele possui. Assim, não se trata de um filme que fala sobre viver, mas, sim, SOBREVIVER. É impossível assisti-lo e não se lembrar de diversas crianças que passamos algumas vezes na rua e que devem estar passando por situação similar.
Além disso, não tem como não se emocionar com a história de Zain. Apesar de ele cometer diversos delitos, não há como desvincularmos a necessidade de cometê-los. Zain é produto do meio, é resultado de um sistema sócio-educacional caótico e pronto para ruir. Cooroborando isso, embora a história se passe no Líbano e a intenção da diretora (Nadine Labaki) seja expor as questões sociais do seu país de origem (vi em algumas entrevistas dela sobre o filme), a grande facada no estômago é saber que essa realidade está presente claramente no nosso país e em diversos outros, que tentam camuflar a existência de tal realidade.

Quanto às atuações, elas estão IMPECÁVEIS. Não há o que se acrescentar ou retirar nas atuações advindas dessa belíssima obra. Todos os atores estão esplendorosos, em especial os que fizeram os personagens Zain (Zain Al Rafeea) e Rahil (Yordanos Shiferaw).
Portanto, “Cafarnaum” é um exercício humano de compreensão das camadas sociais e de percepção de nossa posição dentro dos meandros da sociedade. Ademais, pode-se dizer que é um filme VISCERAL, INTENSO, REFLEXIVO, IMPACTANTE e, acima de tudo, NECESSÁRIO.
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