CANTANDO NA CHUVA

By | outubro 19, 2020 Leave a Comment

LANÇAMENTO: 30 de junho de 1952 
DIREÇÃO: Gene Kelly e Stanley Donen 
ROTEIRO: Adolf Green e Betty Comden 
ELENCO: Gene Kelly; Donald O’Connor; Jean Hagen; Debbie Reynolds...

 

SINOPSE: Don Lockwood (Gene Kelly) e Lina Lamont (Jean Hagen) são dois dos astros mais famosos da época do cinema mudo em Hollywood. Seus filmes são um verdadeiro sucesso de público e as revistas inclusive apostam num relacionamento mais íntimo entre os dois, o que não existe na realidade. Mas uma novidade no mundo do cinema chega para mudar totalmente a situação de ambos no mundo da fama: o cinema falado, que logo se torna a nova moda entre os espectadores. Decidido a produzir um filme falado com o casal mais famoso do momento, Don e Lina precisam entretanto superar as dificuldades do novo método de se fazer cinema, para conseguir manter a fama conquistada.

 

AUTOR do TEXTO: Eliezer Lugarini

 

Não tenho dúvida, se porventura o IBGE ou o Datafolha resolvesse iniciar uma pesquisa sobre o gênero cinematográfico predileto da população brasileira, fatalmente os musicais seriam disparados os “lanterninhas” da competição. A cada dez pessoas, onze odeiam musicais. É incrível!

 

Tenho uma teoria própria, completamente estapafúrdia e sem a menor comprovação científica, de que, em geral, as pessoas sentem completa e absoluta vergonha em cantar e dançar em público. Naturalmente, como a tela do cinema ou da TV em geral é um reflexo do próprio espectador, não me espanta o fato de que um sujeito sinta a tal da “vergonha alheia” quando vê o ator ou atriz cantarolando e exibindo passinhos de dança pelas ruas sem o menor pudor ou constrangimento.


 

O sentimento de “vergonha alheia” comigo costumava aflorar especialmente em episódios de Malhação, depois dos meus 18 anos de idade, ou mesmo quando eventualmente o canal está sintonizado, por casualidade nada intencional, em Sex and The City ou Vestido Ideal - fico rezando para que minha mulher não chegue em casa, neste exato momento, e me pegue em flagrante. Todos já sentiram a “vergonha alheia”, mas, em musicais, eu mesmo nunca senti, talvez pelo fato de que eu simplesmente adoro cantar - não sei como fazê-lo decentemente, mas este é apenas um mero detalhe. Cantar e dançar são grandes libertações da alma, do estado de espírito e é, no fundo, uma forma de se distanciar do mundo real, exatamente a proposta da maioria dos musicais.

 

E “Cantando Na Chuva” é o ápice dos musicais! Se gosto não discute, tem algo que é indiscutível, já que Cantando Na Chuva é o melhor musical da história - sem o menor medo de ser feliz. “Cantando Na Chuva” é uma comédia musical lotada de acidez e graça, combinação muito complexa de se atingir, uma vez que aquilo que normalmente é ácido é ofensivo, enquanto aquilo que é gracioso costuma ser ingênuo.


 


Seu enredo é de certa forma uma afronta à indústria cinematográfica, uma crítica à ilusão que o cinema gera, ao mesmo passo que também é uma homenagem bastante singela ao próprio cinema. Absolutamente tudo em “Cantando Na Chuva” é uma mentira deslavada. E todos que fazem parte do processo de cinema - seja por fazê-lo ou por apreciá-lo - têm a exata noção de que tudo ali é falso, irreal e também absolutamente encantador.

 

O número musical mais óbvio é o número de Gene Kelly, que dá título ao filme, ou melhor, inspirou a existência do filme, já que a música precede em pelo menos 20 anos o filme. Não há dúvidas que esta é a cena mais emblemática e lembrada na história dos musicais. E bem pudera, Gene Kelly é um monstro da dança, seus movimentos são absurdamente perfeitos e surpreendentes. Assim, ouso novamente dizer que Gene Kelly é o maior dançarino que passou pelas telas do cinema, ainda que pese o meu respeito e admiração por Fred Astaire, mas nenhum dançarino é, foi ou será tão carismático quanto Gene Kelly foi.

 

Outros destaques ficam por conta do musical solo Make ‘Em Laugh, protagonizado por Donald O’Connor, em seu papel mais marcante, ainda que ele tenha a primazia de ter interpretado Buster Keaton em O Palhaço Que Não Ri; “Good Morning”, já com a presença dos três protagonistas: Kelly, Connor e a novíssima Debbie Reynolds, com seus 19 aninhos de vida; e o mágico e fantasioso número “Broadway Melody”, em que Gene Kelly protagoniza um filme imaginado dentro do filme original, quando o rapaz do interior segue para Hollywood em busca da fama e glória. Broadway Melody é um abuso de cenários pintados à mão, diversas colorações e composição de cena esplendorosa, talvez seja o melhor número deste filme, ainda que sublimado pelo sucesso do magnífico solo de Kelly na chuva.

 

Pois bem, não creio haver necessidade de me estender, sabendo que qualquer coisa, além disso, seria retratar o óbvio. Tenho por mim que todos que chegam a este texto já assistiram a “Cantando Na Chuva”. Por isso, cogite reassistir a esta pérola do cinema clássico americano, que, pelo menos para mim, gera uma vontade incontrolável de sair dançando e cantarolando na rua, ou mesmo na chuva, doa a quem doer e cause “vergonha alheia” a quem quiser.

 

Observações:

Uma das críticas do filme é exatamente o fato da protagonista Lina Lamont (Jean Hagen) não utilizar sua voz na transição do filme mudo para o falado. E não é que Debbie Reynolds, a bela voz de “Cantando na Chuva”, é voz dublada pela cantora Betty Noyes. Gene Kelly e Donald O’ Connor realmente cantam todas as canções do filme.


TRAILER: https://www.youtube.com/watch?v=F5CVQ5asYtY

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