
SINOPSE: Don Lockwood
(Gene Kelly) e Lina Lamont (Jean Hagen) são dois dos astros mais famosos da
época do cinema mudo em Hollywood. Seus filmes são um verdadeiro sucesso de
público e as revistas inclusive apostam num relacionamento mais íntimo entre os
dois, o que não existe na realidade. Mas uma novidade no mundo do cinema chega
para mudar totalmente a situação de ambos no mundo da fama: o cinema falado,
que logo se torna a nova moda entre os espectadores. Decidido a produzir um
filme falado com o casal mais famoso do momento, Don e Lina precisam entretanto
superar as dificuldades do novo método de se fazer cinema, para conseguir
manter a fama conquistada.
AUTOR do TEXTO: Eliezer Lugarini
Não tenho dúvida, se porventura o IBGE
ou o Datafolha resolvesse iniciar uma pesquisa sobre o gênero cinematográfico
predileto da população brasileira, fatalmente os musicais seriam disparados os “lanterninhas” da competição. A cada dez
pessoas, onze odeiam musicais. É incrível!
Tenho uma teoria própria,
completamente estapafúrdia e sem a menor comprovação científica, de que, em
geral, as pessoas sentem completa e absoluta vergonha em cantar e dançar em
público. Naturalmente, como a tela do cinema ou da TV em geral é um reflexo do
próprio espectador, não me espanta o fato de que um sujeito sinta a tal da “vergonha alheia” quando vê o ator ou
atriz cantarolando e exibindo passinhos de dança pelas ruas sem o menor pudor
ou constrangimento.

O sentimento de “vergonha alheia” comigo costumava aflorar especialmente em
episódios de Malhação, depois dos meus 18 anos de idade, ou mesmo
quando eventualmente o canal está sintonizado, por casualidade nada
intencional, em Sex and The City ou Vestido Ideal - fico rezando
para que minha mulher não chegue em casa, neste exato momento, e me pegue em
flagrante. Todos já sentiram a “vergonha
alheia”, mas, em musicais, eu mesmo nunca senti, talvez pelo fato de que eu
simplesmente adoro cantar - não sei como
fazê-lo decentemente, mas este é apenas um mero detalhe. Cantar e dançar
são grandes libertações da alma, do estado de espírito e é, no fundo, uma forma
de se distanciar do mundo real, exatamente a proposta da maioria dos musicais.
E “Cantando
Na Chuva” é o ápice dos musicais! Se gosto não discute, tem algo que é
indiscutível, já que Cantando Na Chuva é o melhor musical da história - sem o menor medo de ser feliz. “Cantando Na Chuva” é uma comédia
musical lotada de acidez e graça, combinação muito complexa de se atingir, uma
vez que aquilo que normalmente é ácido é ofensivo, enquanto aquilo que é
gracioso costuma ser ingênuo.
Seu enredo é de certa forma uma
afronta à indústria cinematográfica, uma crítica à ilusão que o cinema gera, ao
mesmo passo que também é uma homenagem bastante singela ao próprio cinema.
Absolutamente tudo em “Cantando Na Chuva”
é uma mentira deslavada. E todos que fazem parte do processo de cinema - seja por fazê-lo ou por apreciá-lo - têm
a exata noção de que tudo ali é falso, irreal e também absolutamente
encantador.
O número musical mais óbvio é o número
de Gene
Kelly, que dá título ao filme, ou melhor, inspirou a existência do
filme, já que a música precede em pelo menos 20 anos o filme. Não há dúvidas
que esta é a cena mais emblemática e lembrada na história dos musicais. E bem
pudera, Gene Kelly é um monstro da dança, seus movimentos são
absurdamente perfeitos e surpreendentes. Assim, ouso novamente dizer que Gene
Kelly é o maior dançarino que passou pelas telas do cinema, ainda que
pese o meu respeito e admiração por Fred Astaire, mas nenhum
dançarino é, foi ou será tão carismático quanto Gene Kelly foi.
Outros destaques ficam por conta do
musical solo Make ‘Em Laugh, protagonizado por Donald O’Connor, em seu
papel mais marcante, ainda que ele tenha a primazia de ter interpretado Buster
Keaton em O Palhaço Que Não Ri; “Good Morning”, já com a
presença dos três protagonistas: Kelly, Connor e a novíssima Debbie
Reynolds, com seus 19 aninhos de vida; e o mágico e fantasioso número “Broadway
Melody”, em que Gene Kelly protagoniza um filme
imaginado dentro do filme original, quando o rapaz do interior segue para
Hollywood em busca da fama e glória. Broadway
Melody é um abuso de cenários pintados à mão, diversas colorações e
composição de cena esplendorosa, talvez seja o melhor número deste filme, ainda
que sublimado pelo sucesso do magnífico solo de Kelly na chuva.
Pois bem, não creio haver necessidade
de me estender, sabendo que qualquer coisa, além disso, seria retratar o óbvio.
Tenho por mim que todos que chegam a este texto já assistiram a “Cantando Na Chuva”. Por isso, cogite
reassistir a esta pérola do cinema clássico americano, que, pelo menos para
mim, gera uma vontade incontrolável de sair dançando e cantarolando na rua, ou
mesmo na chuva, doa a quem doer e cause “vergonha
alheia” a quem quiser.
Observações:
Uma
das críticas do filme é exatamente o fato da protagonista Lina Lamont (Jean Hagen) não utilizar sua voz na
transição do filme mudo para o falado. E não é que Debbie Reynolds, a
bela voz de “Cantando na Chuva”, é
voz dublada pela cantora Betty Noyes. Gene
Kelly e Donald O’ Connor realmente cantam todas as canções do
filme.
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