
DIRETOR: Ingmar Bergman
ROTEIRO: Ingmar Bergman
ELENCO PRINCIPAL: Ingrid Thulin; Gunnar Björnstrand; Max von Sydow…
SINOPSE: Após ler
no jornal que a China possui a bomba atômica e pretende usá-la, um pescador vai
à igreja, buscando palavras de conforto e consolo do pastor. Porém, este não
consegue ajudá-lo, pois passa por uma crise de fé, temendo também o apocalipse
nuclear.
AUTOR do TEXTO: Ed Kalume
Aparentemente, tudo estava correndo
tranquilamente no culto de uma pequena igreja luterana do interior. Ao final da
reunião, um rude pescador busca ajuda do pastor local. Ele teria lido uma
notícia de que a China possuía e estava disposta a usar sua bomba atômica. O
rude pescador, preocupado com a possibilidade da extinção da raça humana, abre
seu coração com o pastor, sem saber que estava trazendo à tona uma profunda
crise existencial no mesmo. O filme cobre a vida do pastor por doze horas nesta
tarde de domingo onde medo, dúvida, distanciamento, incomunicabilidade, insegurança,
ausência de fé, tudo vem à tona em seu coração e, em meio a toda essa crise, Deus
continua em silêncio.

Este é o segundo filme da trilogia do
silêncio, ou trilogia da fé, ou trilogia do silêncio de Deus. O filme é
claustrofóbico, sufocante, perturbador, silencioso, desesperador. Nele, Bergman
trata de questões filosóficas e dramas existenciais, disseca a alma humana,
examina de perto relacionamentos, a incomunicabilidade e o tormento que advém
dela.

Duas pessoas, dois universos, dois abismos. A
tentativa do homem de comungar com Deus e com o próximo é frustrada, restando
apenas tradições exteriores banais, a angústia que, segundo Bergman, seria "um sinal de vida".
O filme é brilhante, impecável. Filme que não
agride crentes nem descrentes, apenas levanta perguntas e deixa que o espectador faça
suas próprias divagações.
Principais
personagens:
1.Pastor Tomas
(Gunnar Bjornstrand), viúvo a pouco
tempo, vive uma vida de aparência, seguindo ritos vazios e com o coração
ferido, cheio de dúvidas, enquanto enfrenta uma crise existencial.
2.Martha (Ingrid Thulin), amiga apaixonada por Tomas,
que não acredita em Deus nem na humanidade.
3.Jonas (Max von Sydow), um pescador rude,
enfrentando a depressão e preocupado com a possibilidade de um cataclisma
mundial.
Algumas tiradas
geniais:
1) Os diálogos falados para a câmara acentuam a carga dramática dos
personagens.
2) A fotografia de Sven Nykvist é primorosa. Ele te
leva a ficar sufocado em tomadas internas, apontando a câmera para o lado
certo, tornando momentos dramáticos, viscerais.
3) A cena em que algo vital no enredo está acontecendo e Bergman te
deixa de longe, ouvindo o som do riacho.
4) O desempenho de Gunnar Bjornstrand, Max
von Sydow e Ingrid Thulin é, possivelmente, o melhor de suas carreiras.
5) Enquanto há leitura da Bíblia, a câmera mostra expressões faciais
indiferentes, ou concentradas em si mesmo, distante do que está se passando.
6) Os diálogos...cada afirmação carrega uma carga imensa de sentimento e
nos faz pensar, pensar e pensar...algumas tiradas geniais...
"Eu tinha
essa esperança fugaz... que tudo não acabasse sendo ilusões, sonhos e
mentiras".
"Sofrimento é
incompreensível, então precisa ser explicado".
"Acreditar
que Deus não existe faz a vida ter sentido. É um alívio! Dor e morte tornam-se
naturais. A morte seria a extinção da vida".
"A vida é
confusa o suficiente sem levar em conta o sobrenatural".
"E ele foi
deixado sozinho. Isto sim deve ter sido doloroso. Perceber que ninguém é capaz
de compreender, e ser abandonado quando se precisa contar com alguém - deve ser
extremamente doloroso.
Mas o pior ainda estava por vir. Quando Jesus foi suspenso na cruz e lá agonizando, ele gritou: Deus, meu Deus! Por que me abandonaste? Ele gritou o mais alto que pode, pensou que seu pai do céu o tinha abandonado. Acreditou que tudo que ele tinha pregado fora um engano. No momento antes de morrer, Cristo foi tomado pela dúvida. Certamente este deve ter sido seu maior sofrimento. O silêncio de Deus."
Mas o pior ainda estava por vir. Quando Jesus foi suspenso na cruz e lá agonizando, ele gritou: Deus, meu Deus! Por que me abandonaste? Ele gritou o mais alto que pode, pensou que seu pai do céu o tinha abandonado. Acreditou que tudo que ele tinha pregado fora um engano. No momento antes de morrer, Cristo foi tomado pela dúvida. Certamente este deve ter sido seu maior sofrimento. O silêncio de Deus."
- Martha: "Pobre Thomas, o
que há, Thomas?
- Tomas: Não tem importância pra
você.
- Martha: Me diz de qualquer forma.
- Tomas: O silêncio de Deus.
- Martha: O silêncio de Deus?
- Tomas: O silêncio de Deus."
Aviso único:
se você gostar dessa preciosidade, vai querer assistir muitos outros filmes de
Bergman, principalmente completar sua trilogia com "O Silêncio" e "Através
de Um Espelho". Depois não diga que não foi avisado.
Excelente, Ed.
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