NEVER RARELY SOMETIMES ALWAYS

By | maio 07, 2020 Leave a Comment

LANÇAMENTO: 13 de Março de 2020
DIREÇÃO: Eliza Hittman
ROTEIRO: Eliza Hittman
ELENCO PRINCIPAL: Sidney Flanigan; Talia Ryder; Théodoro Pellerin...



Um retrato íntimo de duas adolescentes na zona rural da Pensilvânia. Diante de uma gravidez indesejada e da falta de apoio local, Autumn e sua prima Skylar embarcam em uma jornada cheia de travessias até a cidade de Nova York.

AUTOR DO TEXTO: Victor Oliveira
LETTERBOXD: https://letterboxd.com/Victorio_32/

Inicialmente, no 1º ato – o mais relevante para uma devida apresentação de personagem -, o filme nos dá uma perspectiva do ambiente social de Autumn. Contudo, infelizmente, não traz substratos sobre a personagem que falem exatamente sobre quem ela é, apenas apresenta algumas atividades corriqueiras dela e, no fim, acaba não estabelecendo nada de modo palpável para compreendermos o contexto de vida e sociedade no qual ela está inserida.

Assim sendo, antes de desenvolver e robustecer um roteiro, principalmente sobre o tema aborto – que é complexo e traz grandes debates acalorados -, é salutar que haja um desenvolvimento razoável dos personagens, para que absorvamos os aspectos fáticos que os circundam, construindo alicerces fortes para que a história evolua de modo mais perspicaz e socialmente humano, o que não ocorre no filme. Simplesmente apresenta pequenas cenas para explicitar o jeito introspectivo de Autumn, mas sem abastecer de minúcias que são relevantes para a história que estava iniciando sua jornada. 


Nesse sentido, a diretora Eliza Hittman - especialmente em razão do roteiro e montagem -, acaba afastando o espectador da personagem, tornando a relação gélida e distante, apesar de estabelecer a personalidade dela em pequenas cenas. Ou seja, compreende-se a personalidade da personagem sem diálogos expositivos - o que é positivo para a diretora -, mas falha enormemente ao não contextualizar o entorno dela.

Daí em diante, particularmente no 2º ato, traz cenas humanamente lindas, e uma em especial – momento em que há perguntas específicas para Autumn – é de cortar o coração, enaltecendo o talento nato de Sidney Flanigan, porém com o distanciamento de espectadores mais exigentes, o que demonstra a existência de uma cena humanamente linda, mas construída sem alicerces mínimos para corroborar o momento de questionamentos tão intensamente humanos da personagem.

Ademais, é um filme que, além de falhar com a personagem principal (Autumn), falha com todos os outros, simplesmente não trazendo background de nenhum deles, o que seria relevante para que a cena final, por exemplo, fizesse-nos, como espectadores, realizar um callback de tudo que foi delineado na trama, podendo transformá-la em um monumento descomunal. Por esse ângulo, cenas relevantíssimas ocorridas no 2º e 3º atos perdem peso, inclusive sobre temas como aborto e violência contra a mulher, que necessitariam de uma construção perspicaz e cuidadosa, pois, da forma que foram feitas, torna o debate raso e facilmente refutável.

Entretanto, embora seja um filme repleto de construções falhas, tem seus méritos. Dito isso, a fotografia e a paleta de cores do filme são muito bem conduzidas, delineando bem os sentimentos e momentos de confusão mental de Autumn. Com tons bem escuros de cores, bem como a presença, em determinado momento, de variação do preto para cores claras, demonstra sentimentos como tristeza, solidão, questionamento e dificuldade de lidar com as circunstâncias que se encontra. Além disso, se desconsiderarmos o 1º ato e preenchermos lacunas que o filme deixa, a experiência pode até melhorar, visto que o filme começa a ganhar corpo com o crescimento da trama, mas sofre, como já dito diversas vezes acima, com sua própria frieza e distanciamento.


Outrossim, analisando as intenções fundamentalistas do filme, percebe-se categoricamente o viés defendido pela diretora na história ao terminar o filme, o que pode gerar uma viciada rejeição ou aceitação a ele. Todavia, apesar da controvérsia secular do tema – aborto, as grandes falhas deste filme não estão no que a diretora defende, ou não, mas, sim, na construção das bases para entregar, ao final, um ápice duradouro e estonteante. Assim, como já exposto, temos um filme relevante no âmago para o debate, mas com alma e coração imensamente desproporcional ao que se poderia entregar.

Portanto, “Never Rarely Sometimes Always” tem todos os elementos introdutórios mínimos para ser um filme grandioso e excepcional, mas retrata e relata um tema de importância tão abissal de modo raso, mal desenvolvido e humanamente oscilante, visto que traz cenas muito boas, cheias de empatia sensorial e sensibilidade, mas que acabam isoladas dentro de um desenvolvimento mal conduzido. 


REFERÊNCIAS
TRAILER: https://www.youtube.com/watch?v=I1H7QYmVH1I
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