O POÇO

By | maio 29, 2020 Leave a Comment


LANÇAMENTO: 18 de Março de 2020
DIREÇÃO: Galder Gaztelu-Urrutia
ROTEIRO: Aranzazu Calleja
ELENCO: Ivan Massagué; Zorion Eguileor; Antonia San Juan; Emilio Buale...



SINOPSE: Dentro de um sistema prisional vertical, os presos são designados para um determinado nível e forçados a racionar alimentos a partir de uma plataforma que se move entre os andares. O Poço é uma alegoria social sobre a humanidade em sua forma mais sombria e faminta.

AUTORA do TEXTO: Camila Ap. Silva

O poço oferta ao espectador uma experiência da qual não se sai ileso e que cutuca e incomoda por expor de forma crua e nada simpática pessoas que poderiam ser eu ou você, exposto à situação em que a fome ignora senso de decência e até o fator humano, que nos diferencia dos animais ditos irracionais. Assim, o senso de necessidade confronta-se com a real distribuição da refeição servida no poço e expõe o que o homem esconde sob a polidez da educação formal no convívio social. Logo, estamos falando, sim, de um banquete no qual a execução e a apresentação dos pratos primam pelo princípio da perfeição, sendo agradável ao olhar e paladar, sucessivamente.




Numa narrativa sobre pessoas confinadas, sem que saibamos exatamente os motivos pelos quais encontram-se ali, dentro de um cenário asséptico e impessoal, a dinâmica do local vai delineando-se e as pessoas vão surgindo, dando contornos a esta. Nesse sentido, Goreng, que dispõe de uma edição de Dom Quixote de La Mancha, único item que optou por ter à mão, é a pessoa que observa, avalia e propõe mudanças, dentro de uma ordem cruel e hedionda que corrompe o homem e o torna desprezível.

Além disso, das batalhas travadas por Goreng - a reflexão sobre a Bíblia -, o espectador vê a corrupção e as entranhas da sociedade de forma microscópica e orgânica, tornando-se a agonia e o desconforto sentidos palpáveis.




O assunto abordado não é novo, mas a forma como a direção e a fotografia o expõem incomoda e faz refletir sobre este, para o bem ou para o mal. Portanto, é um filme para ser visto e revisto, além de nos fazer questionar sobre a validade do cinema enquanto reflexo do que se vive.

Dito isso, ao questionar-me sobre a validade e a relevância da narrativa e da experiência cinematográfica, em tempos de registros diários e supérfluos de momentos vividos, reafirmo: o poço é um filme para realmente ser visto e pensado.


REFERÊNCIAS


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