

LANÇAMENTO: 18 de Março de 2020
DIREÇÃO: Galder Gaztelu-Urrutia
ROTEIRO: Aranzazu Calleja
ELENCO: Ivan Massagué; Zorion Eguileor; Antonia San Juan; Emilio Buale...
SINOPSE: Dentro
de um sistema prisional vertical, os presos são designados para um determinado
nível e forçados a racionar alimentos a partir de uma plataforma que se move
entre os andares. O Poço é uma alegoria social sobre a humanidade em sua forma
mais sombria e faminta.
AUTORA do TEXTO: Camila Ap. Silva
O poço oferta ao
espectador uma experiência da qual não se sai ileso e que cutuca e incomoda por
expor de forma crua e nada simpática pessoas que poderiam ser eu ou você,
exposto à situação em que a fome ignora senso de decência e até o fator humano,
que nos diferencia dos animais ditos irracionais. Assim, o senso de necessidade
confronta-se com a real distribuição da refeição servida no poço e expõe o que
o homem esconde sob a polidez da educação formal no convívio social. Logo,
estamos falando, sim, de um banquete no qual a execução e a apresentação dos
pratos primam pelo princípio da perfeição, sendo agradável ao olhar e paladar, sucessivamente.

Numa narrativa sobre
pessoas confinadas, sem que saibamos exatamente os motivos pelos quais
encontram-se ali, dentro de um cenário asséptico e impessoal, a dinâmica do
local vai delineando-se e as pessoas vão surgindo, dando contornos a esta.
Nesse sentido, Goreng, que dispõe de uma edição de Dom Quixote de La Mancha,
único item que optou por ter à mão, é a pessoa que observa, avalia e propõe
mudanças, dentro de uma ordem cruel e hedionda que corrompe o homem e o torna
desprezível.
Além disso, das
batalhas travadas por Goreng - a reflexão sobre a Bíblia -, o espectador vê a
corrupção e as entranhas da sociedade de forma microscópica e orgânica,
tornando-se a agonia e o desconforto sentidos palpáveis.

O assunto abordado não
é novo, mas a forma como a direção e a fotografia o expõem incomoda e faz
refletir sobre este, para o bem ou para o mal. Portanto, é um filme para ser
visto e revisto, além de nos fazer questionar sobre a validade do cinema
enquanto reflexo do que se vive.
Dito isso, ao
questionar-me sobre a validade e a relevância da narrativa e da experiência
cinematográfica, em tempos de registros diários e supérfluos de momentos
vividos, reafirmo: o poço é um filme para realmente ser visto e pensado.

REFERÊNCIAS

0 comentários: