O CREMADOR

By | junho 23, 2020 Leave a Comment


LANÇAMENTO: 1969
DIRETOR: Juraj Herz
ROTEIRO: Juraj Herz e Ladislav Fuks.
ELENCO: Rudolf Hrusinsky; Vlasta Chramostová; Jana Stehnova...



SINOPSE: Em uma Tchecoslováquia prestes a ser invadida pelas forças alemãs durante a guerra, cremador nacionalista se contamina pela ideologia nazista e passa gradualmente a demonstrar comportamento estranho e obsessivo para com seus compatriotas e sua família. A situação se complica quando ele descobre que sua esposa pode ter sangue judeu.

AUTORA do TEXTO: Camila Ap. Silva

Inicialmente, pode-se dizer que “O Cremador” é desses filmes cruciais para compreendermos alguns movimentos que temos presenciado aqui, no Brasil, e em outros lugares do mundo.

Assim, o filme narra a trajetória de um cremador orgulhoso de seu ofício e que realmente se enxerga com uma ascendência divina, tendo pretensões que pairam acima dos meros mortais, entoando provérbios orientais e crendo numa mística que o sobreponha como um grande ceifador. E essa consagração deve-se a uma pretensa ascendência germânica, tornando-o capaz de decidir sobre vida e morte, para além dos ditames naturais.


Recomendo fortemente este filme para todos, mesmo aqueles que não estão acostumados com filmes com um ritmo mais lento, porque esta obra é capital para uma compreensão maior de como a alienação sobrevém sobre o espírito coletivo, dominando-o e incapacitando a percepção individual dentro do convívio social. E, sim, como dentro de toda a complexidade humana, pessoas são capazes de atos cruéis e ignóbeis para poder justificar uma ideologia e salvar o rebanho.




Filme que integra a novela vaga tcheca e que destoa, no tema e no ritmo, dos demais que integram este movimento, pois é vagaroso e metódico em expor seu personagem - que está longe de vicejar como protagonista -, além de não fazer uso da linearidade temporal para narrar esta trajetória, criando um clima sombrio de horror perante a realidade que se impõe e as incertezas surgidas desta convivência, sufocando toda e qualquer esperança de um lampejo de lucidez dentro de um processo de total deterioração de indivíduo e meio.

Além disso, a fotografia deste filme é um detalhe que merece atenção. Sendo realmente preta e branca, ela não deriva ou esmaece em outras tonalidades. Do contrário, a sobreposição do preto sobre o branco é marcante e traz à tona o mal como algo palpável e contínuo, expondo ao espectador a realidade que o ritmo e as palavras enevoam e mascaram, criando um ambiente pantanoso.

“O Cremador” está no catálogo da Criterion, inclusive, há pouco tempo, teve um lançamento em Dvd e Blu-ray digno de nota e plenamente justificável.

Portanto, creio que tudo nele foi pensado milimetricamente, para dar dimensão do absurdo do fanatismo político e da xenofobia que habita no recôndito profundo da ignorância humana.

Vejam o filme e voltem para me cobrar: exagerei ou estamos vendo o novo século parindo novos cremadores?


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