

DIRETOR: Juraj Herz
ROTEIRO: Juraj Herz e Ladislav Fuks.
ELENCO: Rudolf Hrusinsky; Vlasta Chramostová; Jana Stehnova...
SINOPSE:
Em uma Tchecoslováquia prestes a ser invadida pelas forças alemãs durante a
guerra, cremador nacionalista se contamina pela ideologia nazista e passa
gradualmente a demonstrar comportamento estranho e obsessivo para com seus
compatriotas e sua família. A situação se complica quando ele descobre que sua
esposa pode ter sangue judeu.
AUTORA do TEXTO: Camila Ap. Silva
Inicialmente, pode-se
dizer que “O Cremador” é desses
filmes cruciais para compreendermos alguns movimentos que temos presenciado
aqui, no Brasil, e em outros lugares do mundo.
Assim, o filme narra a
trajetória de um cremador orgulhoso de seu ofício e que realmente se enxerga
com uma ascendência divina, tendo pretensões que pairam acima dos meros
mortais, entoando provérbios orientais e crendo numa mística que o sobreponha
como um grande ceifador. E essa consagração deve-se a uma pretensa ascendência
germânica, tornando-o capaz de decidir sobre vida e morte, para além dos
ditames naturais.

Recomendo fortemente
este filme para todos, mesmo aqueles que não estão acostumados com filmes com
um ritmo mais lento, porque esta obra é capital para uma compreensão maior de
como a alienação sobrevém sobre o espírito coletivo, dominando-o e
incapacitando a percepção individual dentro do convívio social. E, sim, como
dentro de toda a complexidade humana, pessoas são capazes de atos cruéis e
ignóbeis para poder justificar uma ideologia e salvar o rebanho.

Filme que integra a novela
vaga tcheca e que destoa, no tema e no ritmo, dos demais que
integram este movimento, pois é vagaroso e metódico em expor seu personagem - que está longe de vicejar como protagonista
-, além de não fazer uso da linearidade temporal para narrar esta trajetória, criando
um clima sombrio de horror perante a realidade que se impõe e as incertezas
surgidas desta convivência, sufocando toda e qualquer esperança de um lampejo
de lucidez dentro de um processo de total deterioração de indivíduo e meio.
Além disso, a
fotografia deste filme é um detalhe que merece atenção. Sendo realmente preta e
branca, ela não deriva ou esmaece em outras tonalidades. Do contrário, a
sobreposição do preto sobre o branco é marcante e traz à tona o mal como algo
palpável e contínuo, expondo ao espectador a realidade que o ritmo e as
palavras enevoam e mascaram, criando um ambiente pantanoso.
“O Cremador” está no catálogo da Criterion, inclusive,
há pouco tempo, teve um lançamento em Dvd e Blu-ray digno de
nota e plenamente justificável.
Portanto, creio que
tudo nele foi pensado milimetricamente, para dar dimensão do absurdo do
fanatismo político e da xenofobia que habita no recôndito profundo da
ignorância humana.
Vejam o filme e voltem
para me cobrar: exagerei ou estamos vendo o novo século parindo novos cremadores?
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