
LANÇAMENTO: 10 de janeiro de 1987
DIRETOR: Krzysztof Kieslowski
ROTEIRO: Krzysztof Kieslowski
ELENCO: Boguslaw Linda, Tadeusz Lomnicki, Zbigniew Zapasiewicz...
SINOPSE: Enfrentando um futuro incerto, Witek, um jovem polonês estudante de medicina, decide interromper seus estudos e pegar um trem para Varsóvia. Três possibilidades podem ocorrer na vida de um rapaz que pegará o trem: encontrar no vagão um grupo de comunistas, filiando-se ao partido; não conseguir subir no trem, escapar de uma prisão e viver como dissidente marginal; ou perder o embarque e tornar-se um médico desinteressado por política.
AUTOR do TEXTO: Ed Kalume
Engana-se quem pensa que O
Decálogo e a Trilogia das Cores são as únicas
obras primas que Krzysztof Kieslowiski entregou. Seus filmes são sempre, no mínimo,
intrigantes, donos de uma linguagem cinematográfica riquíssima e permeados por
críticas ao totalitarismo. Mas o melhor de tudo em seus filmes é sua abordagem
filosófica, sempre inserida em suas histórias simples, mas contadas de forma ímpar.
Em “Sorte
Cega”, também chamado de Acaso, Kieslowiski trabalha a
questão do destino, de possibilidades que a vida oferece e de qual seria o grau
de liberdade que teríamos, se é que temos alguma, em meio a tudo isso.
Sorte Cega foi realizado na Polônia de
1981, mas só liberado pela censura em 1987. O personagem principal é um
estudante de medicina chamado Witek. Este se encontra numa estação
de trem e corre desesperadamente para pegar seu comboio em direção a Varsóvia,
sem saber que, dependendo de seu sucesso ao pegar, ou não, o trem, seu destino
o levará para caminhos absolutamente diferentes, e até opostos.

Witek corre e o destino corre junto com ele.
Colocar a mão na maçaneta da porta do trem pode significar que ele será um
membro idealista do partido comunista, ou um religioso dissidente marginal, que
se opõe ao partido, ou um pai de família apolítico burguês, vivendo uma vida distante
de qualquer cor partidária. Nesse sentido, a ideia é a de que uma pequena
atitude tomada pode descortinar uma série de possibilidades que nos levaria a
destinos diferentes, mas que, no fundo, todos seriam semelhantes ou se
encerrariam, ao se deparar com o irremediável.
Enquanto Kieslowiski desenvolve
essas opções na vida de Witek, o espectador vai levantando
perguntas como: até que ponto realmente
somos livres para fazer escolhas em nossas vidas? Em que ponto o irremediável
acontece independente de nossas escolhas? Se Deus não existe, como poderíamos nos
livrar do irremediável? Se Deus existe, como poderíamos conciliar sua
existência e nossa liberdade? Será que seria possível lutar, evitar ou nos
esconder de nosso destino? Essas e outras perguntas são levantadas, mas
não respondidas, ficam somente como questionamentos na mente do espectador mais
atento.
Acabamos refletindo que o poder de
escolha nos humaniza, mas também nos angustia. Assim, mesmo nessa perspectiva, ainda
é melhor enfrentar esta angustia, porque viver sem usar de nossa liberdade é um
risco ainda maior, um salto no nada e no absurdo.
E esse tipo de
pensamento sendo jogado ao vento em meio a um governo totalitário...é um luxo!
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