
LANÇAMENTO: 1990
DIRETOR: Abbas Kiarostami
ROTEIRO: Abbas Kiarostami
ELENCO: Hossain Sabzian, Mohsen Makhmalbaf, Abolfazl Ahankhah...
SINOPSE: Jovem cinéfilo apaixonado pelo trabalho do diretor iraniano Mohsen Makhmalbaf acaba preso ao se fazer passar pelo famoso diretor e vai a julgamento, acusado por uma família rica de falsidade ideológica, roubo e extorsão.
AUTORA do TEXTO: Vanessa Paiva
INSTAGRAM: https://www.instagram.com/paivanvanessa/
LETTERBOXD: https://letterboxd.com/vanessapaiva/
O filme tem um formato totalmente orgânico e a narrativa gira em torno de um julgamento em que o personagem se passa por um diretor de cinema. As pausas de silêncio são totalmente contemplativas. Além disso, pelo menos ao meu entender, vislumbro uma fotografia incrível e uma experiência e tanto de imersão dentro da filosofia e do modo de vida islâmico.
A meu ver, o mais interessante aqui é como Kiarostami fala de si mesmo através de entrelinhas e como retrata o fato de uma pessoa imitar ser um diretor de cinema - como se ele tivesse o controle da vida imitando a arte. O bacana, nisso tudo, é que ele introduz um conceito relativamente diferente de obras documentais, em que há a presença do conceito de diretores imitando diretores. E isso foi algo que me recorreu ao revisitar o filme.
Aqui há a reinvenção do conceito de realismo e, em determinados momentos, você tem essa impressão de que há certa influência da presença do diretor no julgamento de Sabzian, que fingiu ser um importante diretor e muito conhecido de cinema chamado Makhmalbaf. Sabzian diz que o amor pelo cinema destruiu sua vida. Essa mentira contada por ele começa dentro de um ônibus, quando uma senhora que estava sentada a seu lado pergunta onde comprou o livro - chamado "O Ciclista" - que estava lendo, e ele diz que esta obra foi escrita por ele.
Em um filme que basicamente está envolvido num sopro sobre honra e valores islâmicos, a família se sentiu lesada por Sabzian e, por isso, ingressa com uma ação contra este, que negou as acusações. A existência dele passou a ser notada e sua paixão por cinema se associa ao reconhecimento e ao respeito que adquiriu, ao se intitular como outra pessoa. Além disso, o personagem adota uma posição de incompreendido diante a situação que causou, se diz entristecido por ser chamado de impostor pela família que ora o tinha acolhido e, posteriormente, por ter sido processado.
Não cabe a mim, no entanto, julgar suas escolhas ou sua motivação - seu comportamento e sua existência tão complexas ultrapassam qualquer explicação e impossibilitam uma posição parcial. Não se trata de pena ou misericórdia, tampouco, empatia, mas de dignidade.
Ao longo do filme, se percebe as motivações de Sabzian, e o desenrolar do filme, bem como toda sua estrutura narrativa, se sucedem baseadas no ideal de confrontação. O ato final não é uma surpresa, percebe-se de alguma forma toda aquela pressão para lidar com a realidade. E você se pergunta: qual realidade? Talvez seja a parte mais plausível para tudo aquilo que ocorre ali.
Uma aposta muito crua, um filme fascinante e imperdível. Se você não conhece Kiarostami, deve ver para ontem - costuma-se dizer que o cinema iraniano é um caminho sem volta, . Você vê um filme e quer ver vários. Sua obra é completamente relevante e este filme, em especial, um grande clássico.
A meu ver, o mais interessante aqui é como Kiarostami fala de si mesmo através de entrelinhas e como retrata o fato de uma pessoa imitar ser um diretor de cinema - como se ele tivesse o controle da vida imitando a arte. O bacana, nisso tudo, é que ele introduz um conceito relativamente diferente de obras documentais, em que há a presença do conceito de diretores imitando diretores. E isso foi algo que me recorreu ao revisitar o filme.

Aqui há a reinvenção do conceito de realismo e, em determinados momentos, você tem essa impressão de que há certa influência da presença do diretor no julgamento de Sabzian, que fingiu ser um importante diretor e muito conhecido de cinema chamado Makhmalbaf. Sabzian diz que o amor pelo cinema destruiu sua vida. Essa mentira contada por ele começa dentro de um ônibus, quando uma senhora que estava sentada a seu lado pergunta onde comprou o livro - chamado "O Ciclista" - que estava lendo, e ele diz que esta obra foi escrita por ele.
Em um filme que basicamente está envolvido num sopro sobre honra e valores islâmicos, a família se sentiu lesada por Sabzian e, por isso, ingressa com uma ação contra este, que negou as acusações. A existência dele passou a ser notada e sua paixão por cinema se associa ao reconhecimento e ao respeito que adquiriu, ao se intitular como outra pessoa. Além disso, o personagem adota uma posição de incompreendido diante a situação que causou, se diz entristecido por ser chamado de impostor pela família que ora o tinha acolhido e, posteriormente, por ter sido processado.
Não cabe a mim, no entanto, julgar suas escolhas ou sua motivação - seu comportamento e sua existência tão complexas ultrapassam qualquer explicação e impossibilitam uma posição parcial. Não se trata de pena ou misericórdia, tampouco, empatia, mas de dignidade.

Ao longo do filme, se percebe as motivações de Sabzian, e o desenrolar do filme, bem como toda sua estrutura narrativa, se sucedem baseadas no ideal de confrontação. O ato final não é uma surpresa, percebe-se de alguma forma toda aquela pressão para lidar com a realidade. E você se pergunta: qual realidade? Talvez seja a parte mais plausível para tudo aquilo que ocorre ali.
Uma aposta muito crua, um filme fascinante e imperdível. Se você não conhece Kiarostami, deve ver para ontem - costuma-se dizer que o cinema iraniano é um caminho sem volta, . Você vê um filme e quer ver vários. Sua obra é completamente relevante e este filme, em especial, um grande clássico.
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