

LANÇAMENTO: 20 de janeiro de 2020
DIRETOR: David Lynch
ROTEIRO: David Lynch
ELENCO: David Lynch; Emily Stofle...
SINOPSE: Com imagens em preto e branco e atmosfera de filme noir, Lynch interpreta um detetive que interroga um macaco suspeito de assassinato.
AUTOR do TEXTO: Eliezer Lugarini
Outro dia, me deparei com a seguinte frase nestas idas e vindas eventuais pelos meandros das redes sociais da internet: “O problema do mundo de hoje é que as pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas, e as pessoas idiotas estão cheias de certezas....”. Fiquei cá pensando, trocando uma reflexão monólogo e debatendo em minha mente comigo mesmo. Isso me fez chegar a uma conclusão bastante simples: Sou um idiota cheio de dúvidas.
Isso vale especialmente quando penso na minha relação com o cinema, afinal de contas, prefiro sempre os filmes simbólicos, surreais e com possibilidades de interpretação abertas àqueles com tramas redondinhas e finais autoexplicativos. No fim das contas, sempre teimo em acreditar que dificilmente compreendo estes filmes ou que não tenho capacidade ou bagagem para tal - fico “boiando” em dúvidas de interpretação -, ou seja, não tenho certezas nestes filmes, o que não faz de mim inteligente como propõe a frase acima, muito pelo contrário.
Neste contexto, tem um rapazinho, já meio velhinho, que curte fazer uns filmes sem pé nem cabeça: David Lynch. E todo mundo gosta do David Lynch, eu, inclusive, o venero, o admiro, “chuto bundas” de quem fala mal dele e penso que seu cinema "non-sense" absurdo com cara de filme B é genial. Mas a linha entre o genial e o idiota costuma ser bastante tênue.
Lynch tem filmes que ficarão sempre marcados para a história do cinema como o inegável Veludo Azul e o clássico cult Cidade dos Sonhos - ainda incluiria Eraserhead, O Homem Elefante e A Estrada Perdida nesta parada de “hits” do “undergound” cheios de genialidade e frisson. Mas não se engane, David Lynch, como qualquer cara que se preze a ousar, é um idiota.
Não me leve a mal, caro leitor e fã do diretor, um idiota no bom sentido. Não tenho dúvidas que Lynch é um daqueles maníacos que sente prazer em ver e ouvir debates acerca de seus filmes e, quando alguém não o compreende, então imagino que Lynch alcance seu ápice, um nível orgasmático muito maior que em qualquer relação sexual que ele possa ter tido na vida. E, como em qualquer atividade corriqueira da vida, às vezes, ele acerta plenamente e, às vezes, sai da frente que lá vem estripulia.
Sorte a nossa como cinéfilos, que geralmente em seus longas ele costuma acertar, mas no quesito curta-metragens, ave maria cheia de graça, é desastre atrás de desastre. “What Did Jack Do?”, lançado este ano pela NETFLIX (outra idiota), é de uma idiotice indescritível. Lynch interroga um macaco que supostamente teria assassinado uma galinha, enquanto alguns trocadilhos são deixados no diálogo questionando o valor e o significado da palavra. Tem mais alguma coisa? Não, não. Tem discussão sobre seu significado? Oxê, se tem.

Enquanto debatemos e criamos teorias infundadas, David Lynch se presta ao seu papel de idiota e dá risada da nossa cara, na cara dura e, assim, o ciclo se completa: o idiota rindo dos idiotas que tentam compreender o “idiota original”, o que, convenhamos, é absurdamente genial.

O novo trabalho de Lynch, no fundo, pouco importa, nem visualmente nem em conteúdo. É mais um de seus muitos curtas que não tem pé nem cabeça, não chegam a lugar algum, são completamente esquecíveis e mesmo assim continuo os assistindo com muito prazer, me deliciando com suas alucinações, cheio de dúvidas que pairam em minha mente, me perguntando: Deus, por quê? E Deus sempre me reponde: “Sois um idiota, meu filho, e a idiotice te salvará.”

REFERÊNCIAS

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