

LANÇAMENTO:
13 de agosto de 2020
DIREÇÃO:
Rebecca Zlotowski
ROTEIRO:
Rebecca Zlotowski e Teddy Lussi-Modeste
ELENCO:
Mina Farid, Zahia Dehar, Benoît Magimel...
SINOPSE:
Durante um verão em Cannes, uma adolescente é atraída pelo estilo de vida de
sua prima, iniciando uma jornada de autoconhecimento e diversas aventuras.
AUTOR do TEXTO: Eliezer Lugarini
O feminismo está em voga, cada dia
mais, tanto em intensidade quanto em ativismo - ouso dizer que o assunto nunca foi démodé, desde que me conheço por
gente, nos meus 36 anos recém-completados de vida. Movimento que surgiu nos
60, mas que não parece ter atingido seu ápice ainda, já que sua tendência de
crescimento me parece nítida.
Já de antemão, e baseado na opinião
única e exclusiva da minha esposa (alguns
reclamarão que não posso chamar uma mulher de minha, já que não existe posse de
uma mulher), me coloco na posição de um machista (afinal de contas, para ela, pelo menos, todos os homens são), para
tecer comentários sobre “A Prima Sofia”,
que estreou recentemente na Netflix.

Logo de cara, uma das grandes sacadas
do filme é posicionar sua visão de acordo com o olhar subjetivo de cada
espectador. Assim sendo, “A Prima Sofia”
consegue a proeza de ser taxado de manifesto machista e feminista ao mesmo
tempo.
“A
Prima Sofia” é o
retrato cotidiano de uma lembrança de duas primas que vivem um breve verão em
Cannes. Naimaa (Mina Farid),
com 16 anos e se deparando com a saída do colegial e a aproximação à vida do
trabalho, busca um estágio em gastronomia, enquanto seus desejos profissionais
se misturam com a vontade natural de uma adolescente em desfrutar a vida. Sofia
(Zahia Dehar) - a prima, idade desconhecida, proveniente da cidade grande de Paris
- encontra Naimaa, uma parceira para sua estada de verão.
Sofia, sendo elemento transformador e uma
garota bela de corpo escultural, esbanja sensualidade, é provocadora e muito
ciente do efeito que seu corpo causa nos homens. Seu espírito é aventureiro e sua
visão nada romantizada sobre o amor é sim uma válvula para alcance de diversas
regalias e luxúria. Como citei acima, muitas pessoas adeptas ao feminismo julgarão
a personagem e seu retrato como um desserviço a tudo que o feminismo tem lutado
contra durante 50 anos - o papel da
mulher como objeto. É fato, bem como é fato, existem diversas Sofias
mundo afora.

Ao decorrer da projeção, Naimaa
vai, aos poucos, se afeiçoando ao estilo de vida livre e desapegado de Sofia
- os sentimentos nunca são explicitados,
mas é nítido que de certa forma ambas sentem atração pela vida alheia.
A câmera da diretora Rebbeca
Zlotowski passeia pelo conto das duas primas sem juízo de valor.
Não estamos falando de uma crítica ácida ao uso do corpo, nem ao glamour ou à
luxúria de Sofia e dos homens que a rodeiam, quanto menos há um olhar
vitimizado sobre a posição de Sofia na sociedade. Ela é livre,
desinibida, sem amarras, sem responsabilidades, sem culpas. Zlotowski
deixa o julgamento para o espectador. É você, caro leitor, quem vai decidir se
o que vemos em tela é machismo, feminismo ou apenas o fetiche do vazio. É neste
ponto que você deve olhar para si mesmo e conceber quais são seus preconceitos estabelecidos,
afinal de contas, não há nada de errado nos rumos que Sofia escolhe para si
mesma.
Por óbvio que “A Prima Sofia” foi e será altamente criticado primeiramente pelos
sensores do pudor, que não concebem cena de sexo sob hipótese alguma, depois
pelas feministas, que verão um absurdo retrato da exploração do corpo feminino
como objeto. E, mais para frente, pelos machistas, por não conceberem o fato de
que uma mulher possa viver a vida da melhor forma que lhe cabe. Não obstante,
obviamente, por grande parte do público da Netflix, que cairá de paraquedas em
um conto cotidiano que não tem um monte “plot
twists” incabíveis tão típicas de suas séries originais. Enfim, as regalias
dos tempos modernos, quando aprendemos a defender fervorosamente nossos pontos
de vistas, mas esquecemos de aprender como sermos tolerantes com o pensamento
alheio.
“A prima Sofia” é um filme dos dias
atuais que referencia por demais o cinema de Eric Rohmer, demonstrando
de forma leve, porém um tanto crítica, aquilo que move os anseios da juventude
numa mescla de inocência e puerilidade, bem como deslumbre pela futilidade e
vulgaridade do ser humano. No fim das contas, torna-se uma ode à liberdade.
Nesse sentido, certo mesmo é que devemos nos livrar de todo e qualquer
julgamento que costumamos tecer sobre a vida alheia. Este é o maior recado de ”A Prima Sofia”.

REFERÊNCIAS

TRAILER: https://www.youtube.com/watch?v=fwu2uFY_xSU
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