ANATOMIA DO MEDO

By | setembro 01, 2020 Leave a Comment
LANÇAMENTO: 22 de novembro de 1955
DIREÇÃO: Akira Kurosawa
ROTEIRO: Akira Kurosawa; Fumio Hayasaka; Hideo Oguni; Shinobu Hashimoto
ELENCO: Toshirô Mifune, Eijirô Tôno, Takashi Shimura...

SINOPSE: Velho empresário está obcecado com a ideia de que haverá um extermínio nuclear. A família conclui que ele já não é capaz de gerir os negócios e o afasta. Ele continua com medo e tenta convencer a todos a sair do Japão em busca de segurança na América do Sul, no Brasil. Nesta ocasião, ele mostra as vicissitudes de uma família numerosa com um pai obsessivo e sua obsessão com uma guerra nuclear.

AUTOR do TEXTO: Ed Kalume

Em 1955, dez anos após Hiroshima e Nagazaki, Akira Kurosawa realiza o primeiro de seus filmes que abordam a guerra e o pesadelo da bomba atômica. Seus outros filmes viriam bem mais tarde. São eles "Sonhos" e "Rapsódia em Agosto".

"Anatomia do Medo", no original "Crônica de Um Ser Humano", trata da deterioração do ser humano e da sociedade por causa do medo. Numa época em que o orgulho nacional ainda estava profundamente ferido e a incerteza com o futuro era real, graças à guerra fria, ninguém melhor que a sociedade japonesa para saber dos horrores que uma possível guerra nuclear a nível mundial poderia causar.


O filme cobre a vida e família de Kiichi Nakajima, um senhor de 70 anos, chefe de família, empresário, respeitado, organizado, trabalhador. Nakajima está, porém, fragilizado pelo medo, em estado constante de pânico, psicologicamente abalado por causa da devastação que a bomba nuclear havia produzido no Japão. Em seu profundo desespero, Nakajima estabelece um plano: fugir com sua família para um país distante, chamado Brasil. Lá, ele poderia viver em segurança.

Com essa premissa, Kurosawa expõe a ferida aberta, apresenta a situação de pânico vivida pela população, trata dos efeitos - não físicos, mas psicológicos - causados pela guerra e destruição. A sociedade japonesa é colocada em cheque: enquanto o velhinho é levado por um sentimento de autopreservação, amor e altruísmo, ainda que conduzido pelo medo, sua família é levada por um sentimento de cobiça, ganância e egoísmo. O que seria justo nesta situação? Toda a família se adaptar a uma nova realidade para atender a necessidade de seu patriarca enfermo ou seria esse patriarca que deveria ceder às necessidades de sua família? 


"Anatomia do Medo" é um filme intenso, impactante e que nos traz muitas reflexões. Um drama familiar duro, mas com muita ternura.

Se tudo o que foi dito até agora ainda não te convenceu, ainda tem a interpretação de Toshiro Mifuni. Esse camaleão tinha 35 anos quando atuou no filme, vivendo um velhinho de 70 anos... e ele está perfeito. Takashi Shimura também entrega uma interpretação perfeita. E Kurosawa, a gente sabe, não vive somente de filmes sobre samurais, muito pelo contrário.

Alguns diálogos e questionamentos do filme:

Dr. Harada: "Ele está louco? Ou estaríamos nós, que conseguimos ficar absolutamente impassíveis a um mundo insano?"

Dr. Harada: "Ele foi longe demais. Mas... não estamos preocupados com as bombas? Claro que estamos, assim como a senhorita Tamiya. Não está certo? Só que não estamos tão perturbados quanto aquele homem. Não construímos abrigos subterrâneos, nem planejamos nos mudar para o Brasil. No entanto, não podemos exatamente ignorar esse sentimento, podemos? É um sentimento compartilhado por quase todos os japoneses. Não posso justificar uma decisão leviana só porque ele foi longe demais. A coisa é..."

Kiichi Nakajima: "Por favor, eu imploro a vocês. Vamos para o Brasil, eu imploro. Todos vocês, como uma família. Você diz que estou iludido. Talvez esteja. Mas as bombas H realmente existem. A guerra pode estourar a qualquer momento. Se isso acontecer, será tarde demais, você não pode ir a lugar nenhum, então. Ainda podemos fazer isso, vamos fugir porque ainda podemos".

Sue Nakajima (filha): "Eu vou contigo, pai!" 
(Kiichi Nakajima desmaia
Sue Nakajima: "Papai! Papai! Papai! Papai! Papai!"
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