

LANÇAMENTO: 22 de novembro de 1955
DIREÇÃO: Akira Kurosawa
ROTEIRO: Akira Kurosawa; Fumio
Hayasaka; Hideo Oguni; Shinobu Hashimoto
ELENCO: Toshirô Mifune, Eijirô
Tôno, Takashi Shimura...
SINOPSE: Velho empresário está obcecado com a ideia
de que haverá um extermínio nuclear. A família conclui que ele já não é capaz
de gerir os negócios e o afasta. Ele continua com medo e tenta convencer a
todos a sair do Japão em busca de segurança na América do Sul, no Brasil. Nesta
ocasião, ele mostra as vicissitudes de uma família numerosa com um pai
obsessivo e sua obsessão com uma guerra nuclear.
AUTOR do TEXTO: Ed Kalume
Em 1955, dez anos após Hiroshima e Nagazaki,
Akira
Kurosawa realiza o primeiro de seus filmes que abordam a guerra e o
pesadelo da bomba atômica. Seus outros filmes viriam bem mais tarde. São eles "Sonhos"
e "Rapsódia
em Agosto".
"Anatomia do Medo", no
original "Crônica de Um Ser
Humano", trata da deterioração do ser humano e da sociedade por causa
do medo. Numa época em que o orgulho nacional ainda estava profundamente ferido
e a incerteza com o futuro era real, graças à guerra fria, ninguém melhor que a
sociedade japonesa para saber dos horrores que uma possível guerra nuclear
a nível mundial poderia causar.

O filme
cobre a vida e família de Kiichi Nakajima, um senhor de 70
anos, chefe de família, empresário, respeitado, organizado, trabalhador.
Nakajima está, porém, fragilizado pelo medo, em estado constante de pânico,
psicologicamente abalado por causa da devastação que a bomba nuclear havia
produzido no Japão. Em seu profundo desespero, Nakajima estabelece um plano: fugir com sua família para um país
distante, chamado Brasil. Lá, ele poderia viver em segurança.
Com essa
premissa, Kurosawa expõe a ferida aberta, apresenta a situação de pânico
vivida pela população, trata dos efeitos - não
físicos, mas psicológicos - causados pela guerra e destruição. A sociedade
japonesa é colocada em cheque: enquanto o velhinho é levado por um sentimento
de autopreservação, amor e altruísmo, ainda que conduzido pelo medo, sua
família é levada por um sentimento de cobiça, ganância e egoísmo. O
que seria justo nesta situação? Toda a família se adaptar a
uma nova realidade para atender a necessidade de seu patriarca enfermo ou seria
esse patriarca que deveria ceder às necessidades de sua família?

"Anatomia do Medo" é um filme
intenso, impactante e que nos traz muitas reflexões. Um drama familiar duro,
mas com muita ternura.
Se tudo o
que foi dito até agora ainda não te convenceu, ainda tem a interpretação de Toshiro
Mifuni. Esse camaleão tinha 35 anos quando atuou no filme, vivendo um velhinho
de 70 anos... e ele está perfeito.
Takashi
Shimura também entrega uma interpretação perfeita. E Kurosawa,
a gente sabe, não vive somente de filmes sobre samurais, muito pelo contrário.
Alguns diálogos e questionamentos do filme:
Dr. Harada: "Ele está louco? Ou estaríamos nós, que conseguimos ficar
absolutamente impassíveis a um mundo insano?"
Dr. Harada: "Ele foi longe demais. Mas... não estamos preocupados com as
bombas? Claro que estamos, assim como a senhorita Tamiya. Não está certo? Só
que não estamos tão perturbados quanto aquele homem. Não construímos abrigos
subterrâneos, nem planejamos nos mudar para o Brasil. No entanto, não podemos
exatamente ignorar esse sentimento, podemos? É um sentimento compartilhado por
quase todos os japoneses. Não posso justificar uma decisão leviana só porque
ele foi longe demais. A coisa é..."
Kiichi Nakajima: "Por favor, eu imploro a vocês. Vamos
para o Brasil, eu imploro. Todos vocês, como uma família. Você diz que estou
iludido. Talvez esteja. Mas as bombas H realmente existem. A guerra pode
estourar a qualquer momento. Se isso acontecer, será tarde demais, você não
pode ir a lugar nenhum, então. Ainda podemos fazer isso, vamos fugir porque
ainda podemos".
Sue Nakajima (filha): "Eu vou contigo,
pai!"
(Kiichi
Nakajima desmaia)
Sue Nakajima: "Papai! Papai! Papai! Papai! Papai!"
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