XXY

By | setembro 07, 2020 Leave a Comment
LANÇAMENTO = 25 de setembro de 2007
DIREÇÃO = Lucia Puenzo
ROTEIRO = Lucia Puenzo; Luisina Troncoso; Natasha Braier; Sergio Bizzio
ELENCO = Inés Efron, Martín Piroyansky, Ricardo Darín...

SINOPSE: Alex nasceu com ambas as características sexuais. Tentando fugir dos médicos que desejam alterar a ambiguidade genital da criança, seus pais a levam para um vilarejo no Uruguai. Eles estão convencidos de que uma cirurgia deste tipo seria uma violência ao corpo de Alex e, com isso, vivem isolados numa casa nas dunas.

AUTORA do TEXTO: Vanessa Paiva

Como pouco se vê no cinema, o filme retrata com bastante sensibilidade a temática que envolve toda trama a respeito da intersexualidade, desde a pressão por pertencer a um sexo binário pré-estabelecido, ao preconceito e à violência sofridos em determinados pontos da trama, a curiosidade de conhecer mais e explorar a sua sexualidade e também a aceitação.

No entanto, isso não fica claro inicialmente. Assim, o filme dá pistas, com frases soltas aqui e outras ali, espalhando migalhas para que o espectador possa explorar o que está ali diante de seus olhos, deixando-o abstrair dessa experiência cinematográfica toda realidade que, a princípio, gira em torno da concepção do sexo feminino como primário, mas que te surpreende com a performance de Alex, ao ir contra toda essa heteronormatividade, quando se percebe intersexo.


Os pais de Alex têm expectativas e esperam que ele se adeque a um dos sexos que possui, pois há essa necessidade por parte deles, tanto que o personagem foi criado como do gênero feminino. Além disso, há o desejo, por parte deles, para que ele realize a cirurgia que a faça optar pelo sexo. A mãe se mostra angustiada, triste e preocupada com o futuro de Alex, já o pai é protetor, calado e até presencia uma cena em que ele se relaciona sexualmente com Álvaro - filho de um casal que está na casa convivendo com eles. Tanto o pai quanto a mãe esperam que ela seja mulher - há um diálogo do casal que impressiona ao exporem essa necessidade de ela ser normal.

Bom, essa necessidade de normalidade ou até mesmo que ela pertença a um padrão hétero, revela mais deles do que da personagem, afinal um casal hétero esperando que a filha corte um membro de seu corpo, submetendo-se cirurgicamente a essa ambivalência com o intuito único de ela se adequar a um padrão para um “happy ending for all”, é algo completamente avassalador, afinal, não há decisão simples. Há todo tipo de violência que envolve a escolha de Alex, tanto física, da tentativa de estupro na praia, à briga na peixaria, como emocional, com a pressão das pessoas ao redor para que ela faça a cirurgia.


O que é bastante interessante, a meu ver, é poder acompanhar de perto desde o momento do tratamento de transição até a decisão de interromper esse tratamento, abandonando essa concepção de que deve e precisa se enquadrar a padrões heteronormativos e ascendendo sua corporalidade e performatividade como uma pessoa intersexo. A quebra desse paradigma e o rompimento com o que é considerado “normal” ou “padrão”, por parte de Alex, mesmo diante de toda essa pressão, comprovam que esse filme foge a estereótipos.

Do primeiro ao terceiro ato, o filme tem essa sequência que percorre todos os aspectos intrínsecos e extrínsecos que permeiam a existência de Alex. Além disso, outro aspecto a se observar é como esse valor hétero é supervalorizado, principalmente nos diálogos, e como ele sufoca tantas outras realidades.

O filme é de fato um achado, gostei de ver que ele está na Netflix. É uma preciosidade do início ao fim, tirando esse excesso de protagonismo de diálogos que normalizam o sexo - talvez uma ponte que poderia ser construída fosse para ressignificar as experiências de personagens LGBTQIA+. Por outro lado, pode ser proposital os diálogos, vezes machistas, vezes homofóbicos, para expor a realidade de quem sofre esse tipo de preconceito. Vi 3 vezes e, com certeza, revisitarei. Uma excelente abordagem. Você não vai querer perder esse filme; prepare a pipoca e dê o play!

TRAILER: https://www.youtube.com/watch?v=pFTmunT0ujc
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