

SINOPSE:
Enquanto procuram pela casa ideal para que possam morar juntos, um casal se vê
preso em um complicado labirinto feito de moradas idênticas entre si. Quando
eles percebem que o local não é nada do que imaginavam, pode ser tarde demais.
AUTORA do TEXTO: Nana Pelissari
Uma sequência curiosa, que a princípio
pode parecer uma alegoria meramente ilustrativa, criando uma associação à ideia
do viveiro, dá início ao filme. Em um tom documental, assistimos à breve
colocação sobre o pássaro que, movido pela sua natureza e instinto, tem o costume
de invadir o ninho alheio, jogando para fora os filhotes da outra espécie que
este abrigava. Passada essa introdução, somos apresentados ao casal protagonista
Gemma
- uma professora de jardim de infância
- e Tom
- um zelador cuidando do jardim da escola.
Simples e leves, são pessoas reais levando vidas comuns, aparentemente fluidas
e tranquilas. Assim, pretendem se casar e estão em busca de uma casa para
viverem juntos, e esta busca dá início a trama que nos surpreende.

Nada é por acaso ou possui apenas uma
interpretação. Nesse sentido, o excêntrico corretor de imóveis que os recebe é o
personagem que abre caminho para o mundo de bizarrices e estranhezas que vem a
seguir, para o qual são atraídos e se tornam cativos. Num misto de desconforto,
certo interesse e benevolência para com aquela figura peculiar, acatam a visita
ao loteamento sugerido. Seguem com ele até um conjunto de ruas e casas que, de
tão ordinárias e repetidas à exaustão, fazem do lugar um espaço inusitado. Lá,
são levados até o interior do imóvel à venda, onde são abandonados e de onde não
conseguem mais sair.
Estão presos a um lugar onde tudo é
perfeitamente limpo, simétrico e sem excessos. As construções são todas iguais,
extremamente regulares e se sucedem a perder de vista. O céu é claro e azul,
com nuvens bem definidas, de forma e disposição regulares, a grama é verde e
aparada - nada parece aleatório, orgânico
ou espontâneo. A monotonia que esta artificialidade traz, e que também se
faz presente nas cores, é gritante e, à medida que o tempo corre, fica cada vez
mais sufocante. O espaço cênico é claustrofóbico. A história, então, se
desenrola reproduzindo a sensação dessa prisão cíclica, repetitiva, infinita e
sem saída.

O terror psicológico está impresso no
clima do filme, que também tange o humor e o drama, além de soar como uma
ficção científica, compondo uma mescla interessante de gêneros. Há um mistério,
queremos entender o que está acontecendo com eles, o que é aquele lugar e por
que estão ali. A situação angustiante promove o suspense, ao mesmo tempo que
constrói uma metáfora através do seu aspecto surreal.
Crítico e reflexivo, repleto de
simbolismos e entrelinhas, é um filme intrigante, mas que pode ser cansativo, por
se prender, mesmo que propositalmente, a uma rotina de sucessões. Peca também,
talvez, por algumas falhas no seu desenvolvimento, que poderia ser mais
profundo ou mais implícito. Para quem curte assistir produções ao estilo Black
Mirror e afins, o filme é uma indicação válida.


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