GUERRA FRIA

By | outubro 06, 2020 Leave a Comment

LANÇAMENTO = 20 de dezembro de 2018
DIREÇÃO = Pawel Pawlikowski
ROTEIRO = Pawel Pawlikowski e Janusz Glowacki
ELENCO = Joanna Kulig, Tomasz Kot, Borys Szyc, Agata Kulesza...

 

SINOPSE: Durante a Guerra Fria entre a Polônia stalinista e a Paris boêmia dos anos 50, um músico amante da liberdade e uma jovem cantora com histórias e temperamentos completamente diferentes vivem um amor impossível.



AUTOR do TEXTO: Leonardo Lima
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O amor não se define; o amor apenas existe e se vive. Com essa definição, assumidamente pretensiosa até certo ponto, talvez se faça jus àquilo que o diretor polonês Pawel Pawlikowski quis trazer ao público, ao filmar sua mais recente obra-prima, Guerra Fria” - uma ode às histórias de amor que sobrevivem a todos e a tudo, inclusive ao tempo.

 

Indicado em três categorias para o Oscar 2019Melhor Filme Internacional, Melhor Fotografia e Melhor Direção -, “Guerra Fria” se passa na Europa do pós-guerra, no período de 1949 a 1964, tendo como pano de fundo narrativo o contexto histórico marcado pelos conflitos ideológicos de então, particularmente o vivenciado por quem se encontrava no lado comunista da Cortina de Ferro. Todavia, ao contrário do que as pessoas mais desavisadas poderiam intuir, o filme recorre ao termo guerra fria como título, apenas com o intuito de evidenciar a peculiar natureza conflituosa de encontros e desencontros, tensões e distensões do relacionamento entre Zula (Joanna Kulig) e Wiktor (Tomasz Kot).

 


Evidentemente, a fotografia em preto e branco, de contrastes fortes ao estilo barroco, que acentuam tanto a carga dramática e subjetiva do filme quanto à intenção do diretor em aproximar sua obra o máximo possível de uma perspectiva estilizada da realidade, sem dúvida é o grande destaque técnico de Guerra Fria. Tais nuances fotográficas também servem para conferir à narrativa em tela uma atmosfera de melancolia, em estreita sintonia com o reviver de memórias imperfeitas do passado, efeito este que é reforçado por Pawlikowski, graças ao uso de elipses  - ora breves, ora longas, entre os planos. Desse modo, ao público compete a tarefa de preencher os vazios constituintes desses saltos no tempo e no espaço, que, a bem da verdade, parecem simbolizar o próprio vazio existencial decorrente da efemeridade de cada encontro do casal.

 

Interessante notar como a música é transformada numa personagem com vida própria no filme, servindo para cimentar e potencializar dramaticamente a trajetória desse relacionamento atemporal. Do embalo da tradicional canção folk que resiste nos grotões rurais da Polônia ao cosmopolitismo cultural de Paris, as vivências e os sentimentos circunstanciais dos personagens são expressos de maneira intensa por meio da trilha sonora, sempre pronta a reafirmar que aquele amor, a despeito dos entraves externos para sua continuidade concreta, haveria de perdurar independentemente de ambos se manterem juntos fisicamente – algo que possui um significado impactante face ao final de inspiração shakespeariana da película.


 

Por fim, é impossível não destacar também a entrega e a autenticidade na atuação da dupla Joanna Kulig e Tomasz Kot, que juntos tornam críveis, em cada semblante e em cada movimento de seus corpos, a força do romance vivido por seus personagens, que nem mesmo uma explosão nuclear conseguiria se igualar em termos dos impactos reais gerados por toda uma vida.

 

A guerra fria dos tempos de embate entre os polos capitalista e comunista é coisa do passado. “Guerra Fria”, de Pawel Pawlikowski, porém, é a arte do fazer cinematográfico revelada de modo pujante e sensível, sabedora de que a forma e o conteúdo são facetas complementares que, se reunidas num amálgama perfeito, têm o poder de proporcionar obras-primas inesquecíveis para a humanidade.


TRAILER: https://www.youtube.com/watch?v=-kOYORgvljA

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