O REI DA COMÉDIA (Leia a Resenha)

By | maio 11, 2020 Leave a Comment


LANÇAMENTO: 18 de Fevereiro de 1983
DIREÇÃO: Martin Scorsese
ROTEIRO: Paul D. Zimmerman
ELENCO PRINCIPAL: Robert De Niro; Jerry Lewis; Sandra Bernhard...


SINOPSE: Jerry Langford (Jerry Lewis) é um consagrado apresentador de TV. Um dia, ao se encaminhar para o trabalho, ele é sequestrado pelo aspirante a comediante Rupert Pupkin (Robert De Niro) e sua amiga Masha (Sandra Bernhard). Para escapar da situação, Jerry concede a Rupert espaço em seu programa de TV, de forma que ele possa apresentar seu número.

AUTOR DO TEXTO: Victor Oliveira

O “Rei da Comédia” é um filme que se apresenta com aspectos estruturais leves e aprazíveis, com o intento de ativar elementos sensoriais do espectador que o façam sentir, indutivamente, empatia pelo personagem Rupert Pupkin (Robert De Niro). Nesse sentido, praticamente todas as cenas utilizadas no filme são com Rupert Pupkin em tela, expondo sua rotina e seus devaneios para se tornar uma grande estrela da comédia – elementos de roteiro que exacerbam nossa relação com o personagem. 




Isso posto, o diretor Martin Scorsese, sagazmente, usa a relação de afinidade construída em torno do personagem para envelopar suas visões sociais incrustradas na história. Isso posto, se olharmos apenas para a camada mais superficial e patente da história, veremos um entretenimento que torna imperceptível o tempo do filme, pois deixa o espectador totalmente imerso na trama em curso. Porém, caso olhemos – atenciosamente - para as nuances estabelecidas durante a história e o seu elo com o final, pode-se ter uma percepção mais abrangente da visão estabelecida pelo diretor.  

Assim sendo, adentrando aos aspectos sociais que podem ser vistos no filme, primeiramente, pode-se perceber uma crítica forte, porém aveludada, à indústria do entretenimento, mostrando-nos o quão podemos ser induzidos e direcionados para caminhos gerados pelo método de transmissão da mensagem, atingindo aspectos sensoriais do espectador de modo obscuro e latente. Nessa perspectiva, o filme, apesar da existência de atos altamente reprimíveis cometidos pelos personagens, é um exercício pleno de indução do espectador, pondo-o no mesmo patamar do consumidor de entretenimento da trama, isto é, como relativizador do peso dos fatos amalgamados.




Dito isso, fica clara a intenção do diretor de nos mostrar que também podemos ser induzidos de modo silencioso e imperceptível pelo “showbiz”, que tem como principal objetivo o show pelo show, independente dos fatos e aspectos sociais, éticos e morais que se apresentam por trás dele, ou seja, o entretenimento acima de tudo. Assim sendo, provavelmente, ao terminar de assistir este filme, você não dará o peso que deve se dar aos fatos que ocorrem na trama. Sabe por quê? Você foi induzido a isso.

Em razão disso, a “comédia” exposta no filme, o belíssimo “mise-en-scène” - com figurinos, cenários e iluminações excepcionais – a paleta de cores, as decisões de roteiro e a montagem do filme são instrumentos da ironia do diretor, mostrando que - através de elementos estéticos, visuais e sonoros - já fomos seduzidos de algum modo, abrandando parte dos nossos parâmetros de sociedade e de justiça social, o que se encaixaria claramente como um método de pós-verdade, direcionando sua atenção para o caminho que ele deseja, o que tira nosso foco do cerne que evidentemente importa.      

Ademais, de modo mais evidente, Scorsese, ao descrever a relação entre ídolos e fãs, demonstra-a distorcida, imbuída de hipocrisia e demagogia. Ou seja, para os ídolos, os fãs são pessoas desconhecidas que admiram seu trabalho, não havendo qualquer interesse daqueles em personificar estes (isto é, o ídolo não se importa sequer com seus nomes – ficando clara essa percepção em algumas cenas do personagem Jerry Langford). Já do ponto de vista dos fãs, há a construção de um mito que não condiz com o lado pessoal do ídolo, o que explicita a incongruência, por exemplo, de como os personagens Rupert Pupkin (Robert De Niro) e Masha (Sandra Bernhard) veem Jerry Langford e como ele efetivamente é. Em suma, o ídolo menospreza e o fã exalta exacerbadamente, evidenciando-se uma relação inversamente proporcional de sentimentos e, mais uma vez, um método de indução, quanto à imagem do ídolo – havendo uma dicotomia entre a imagem criada do ídolo e sua persona real.

Por esses elementos - e outros que não expus para não afetar a experiência – considero esse o filme mais detalhista e perfeccionista do diretor, trazendo para nós, cuidadosamente, a atenção na relação emissor-receptor de mensagens, inclusive quando se trata do contexto de ídolo-fã.

Além de todos as particularidades expostas, não se pode deixar de falar da deslumbrante atuação de ROBERT DE NIRO neste filme. Analisando a filmografia de sua carreira, consegue-se perceber o quão bom ator ele é, trazendo muita verossimilhança aos seus personagens. Aqui, estamos diante do comediante Rupert Pupkin, que tenta realizar seu sonho de se tornar um famoso comediante “stand-up”. Assim, mais uma vez, De Niro entrega simpatia e carisma ao personagem, bem como o humor primordial para os objetivos da trama (não é qualquer ator que conseguiria entregar a autenticidade necessária para tal atuação). 

Portanto, se ainda não conhece essa belíssima obra, recomendo que lhe assista com bastante atenção aos detalhes que estão por trás de todos os elementos primários expostos em tela, e perceberá o quão pessimista são as visões do diretor que estão por trás da camada superficial do filme.

TRAILER: https://www.youtube.com/watch?v=0wVhCCo02P4
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