
LANÇAMENTO: 18 de Fevereiro de 1983
DIREÇÃO: Martin Scorsese
ROTEIRO: Paul D. Zimmerman
ELENCO PRINCIPAL: Robert De Niro; Jerry
Lewis; Sandra Bernhard...
SINOPSE: Jerry Langford (Jerry Lewis) é um consagrado apresentador de
TV. Um dia, ao se encaminhar para o trabalho, ele é sequestrado pelo aspirante
a comediante Rupert Pupkin (Robert De Niro) e sua amiga Masha (Sandra
Bernhard). Para escapar da situação, Jerry concede a Rupert espaço em seu
programa de TV, de forma que ele possa apresentar seu número.
O “Rei da Comédia” é um filme que se apresenta com aspectos
estruturais leves e aprazíveis, com o intento de ativar elementos sensoriais do
espectador que o façam sentir, indutivamente, empatia pelo personagem Rupert Pupkin (Robert
De Niro). Nesse sentido, praticamente todas as cenas utilizadas no filme
são com Rupert Pupkin em tela, expondo sua rotina e seus devaneios para se
tornar uma grande estrela da comédia – elementos de roteiro que exacerbam nossa
relação com o personagem.

Isso posto, o diretor Martin Scorsese, sagazmente, usa a relação de afinidade
construída em torno do personagem para envelopar suas visões sociais
incrustradas na história. Isso posto, se olharmos apenas para a camada mais
superficial e patente da história, veremos um entretenimento que torna
imperceptível o tempo do filme, pois deixa o espectador totalmente imerso na
trama em curso. Porém, caso olhemos – atenciosamente - para as nuances
estabelecidas durante a história e o seu elo com o final, pode-se ter uma
percepção mais abrangente da visão estabelecida pelo diretor.
Assim sendo, adentrando aos
aspectos sociais que podem ser vistos no filme, primeiramente, pode-se perceber
uma crítica forte, porém aveludada, à indústria do entretenimento,
mostrando-nos o quão podemos ser induzidos e direcionados para caminhos gerados
pelo método de transmissão da mensagem, atingindo aspectos sensoriais do
espectador de modo obscuro e latente. Nessa perspectiva, o filme, apesar da
existência de atos altamente reprimíveis cometidos pelos personagens, é um
exercício pleno de indução do espectador, pondo-o no mesmo patamar do
consumidor de entretenimento da trama, isto é, como relativizador do peso dos
fatos amalgamados.

Dito isso, fica clara a
intenção do diretor de nos mostrar que também podemos ser induzidos de modo
silencioso e imperceptível pelo “showbiz”,
que tem como principal objetivo o show pelo show, independente dos fatos e
aspectos sociais, éticos e morais que se apresentam por trás dele, ou seja, o
entretenimento acima de tudo. Assim sendo, provavelmente, ao terminar de
assistir este filme, você não dará o peso que deve se dar aos fatos que ocorrem
na trama. Sabe por quê? Você foi induzido a isso.
Em razão disso, a “comédia” exposta no filme, o belíssimo
“mise-en-scène” - com figurinos,
cenários e iluminações excepcionais – a paleta de cores, as decisões de roteiro
e a montagem do filme são instrumentos da ironia do diretor, mostrando que -
através de elementos estéticos, visuais e sonoros - já fomos seduzidos de algum
modo, abrandando parte dos nossos parâmetros de sociedade e de justiça social,
o que se encaixaria claramente como um método de pós-verdade, direcionando sua
atenção para o caminho que ele deseja, o que tira nosso foco do cerne que
evidentemente importa.
Ademais, de modo mais
evidente, Scorsese, ao descrever a relação entre ídolos e fãs, demonstra-a distorcida,
imbuída de hipocrisia e demagogia. Ou seja, para os ídolos, os fãs são pessoas
desconhecidas que admiram seu trabalho, não havendo qualquer interesse
daqueles em personificar estes (isto é, o
ídolo não se importa sequer com seus nomes – ficando clara essa percepção em
algumas cenas do personagem Jerry Langford). Já do ponto de vista dos fãs, há a construção de um mito que
não condiz com o lado pessoal do ídolo, o que explicita a incongruência, por
exemplo, de como os personagens Rupert Pupkin (Robert
De Niro) e Masha (Sandra Bernhard) veem Jerry Langford e
como ele efetivamente é. Em suma, o ídolo menospreza e o fã exalta
exacerbadamente, evidenciando-se uma relação inversamente proporcional de
sentimentos e, mais uma vez, um método de indução, quanto à imagem do ídolo –
havendo uma dicotomia entre a imagem criada do ídolo e sua persona real.
Por esses elementos - e outros que não expus para não
afetar a experiência – considero esse o filme mais detalhista e perfeccionista
do diretor, trazendo para nós, cuidadosamente, a atenção na relação
emissor-receptor de mensagens, inclusive quando se trata do contexto de
ídolo-fã.
Além de todos as particularidades expostas, não se pode
deixar de falar da deslumbrante atuação de ROBERT DE NIRO neste filme. Analisando a filmografia de
sua carreira, consegue-se perceber o quão bom ator ele é, trazendo muita
verossimilhança aos seus personagens. Aqui, estamos diante do comediante Rupert
Pupkin, que tenta realizar seu sonho de se tornar um famoso comediante “stand-up”. Assim, mais uma vez, De Niro
entrega simpatia e carisma ao personagem, bem como o humor primordial para os
objetivos da trama (não é qualquer ator
que conseguiria entregar a autenticidade necessária para tal atuação).
Portanto, se ainda não conhece essa belíssima obra,
recomendo que lhe assista com bastante atenção aos detalhes que estão por trás de
todos os elementos primários expostos em tela, e perceberá o quão pessimista
são as visões do diretor que estão por trás da camada superficial do filme.
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