

LANÇAMENTO = 02 de janeiro de 2020
DIREÇÃO: Robert Eggers
ROTEIRO: Robert Eggers e Max Eggers
ELENCO: Robert Pattinson; Willem Dafoe; Valeriia Karaman
SINOPSE: Início do
século XX. Thomas Wake (Willem Dafoe), responsável pelo farol de uma ilha
isolada, contrata o jovem Ephraim Winslow (Robert Pattinson) para substituir o
ajudante anterior e colaborar nas tarefas diárias.
AUTORA do TEXTO:
Vanessa Paiva
INSTAGRAM:
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LETTERBOXD:
https://letterboxd.com/vanessapaiva/
Entre
gaivotas, o mar, contos de marinheiro, dois sujeitos e um farol que é
trabalhado o filme visualmente. A princípio achei um filme bastante silencioso
- há bastante tensão no início do momento
em que arparam o barco até os jantares iniciais. O filme evolui de uma
maneira absurda, considero que além de inusitado ele é visceral - aquelas duas pessoas ali, convivendo
cotidianamente sobre tensão, e toda aquela masculinidade reprimida e
repressora, porque não?
Claro,
ambientado em meados do século XX, a forma como as pessoas lidavam com seus
sentimentos era indubitavelmente com muito distanciamento e discrição. Para mim,
honestamente, ver dois seres confinados dia a dia presos em uma ilha, sem o
luxo do convívio externo, é uma grande experiência sociológica. Há, sim, essa
disputa insana por poder e por controle. Há períodos de aproximação, cooperação
e, até, diversão, o que bem de longe me lembra um pouco Das Experiment (2001)[1],
no contexto de confinamento, por que são filmes com propostas bem distintas,
mas que retratam bem a dinâmica do convívio e isolamento.

Ali,
são dois seres vivenciando o extremo, o que há de melhor e o que há de pior, permeando
o desejo de forma intensa em suas vidas, seja pelo ocultamento, pelos segredos
ou pela vontade, descobrimento e curiosidade. O contexto de “O Farol” pode ser enxergado pela ótica
da filosofia sobre o caminho da iluminação. As facetas, ainda mais visíveis e
assustadoras, pela impressão causada pela iluminação, e as cores preto e branco
dão vida ao filme uma grande riqueza de detalhes para cada cena.
É um
paradoxo! Há momentos que você pensa que são delírios dos personagens ou frutos
da imaginação deles. O enredo gira em torno do escravo e seu mestre, essa
relação que às vezes se confunde entre submissão e dependência, até porque um
precisa do outro, seja para realizar a mais simples tarefa ou para não
enlouquecer diante um quadro de isolamento intenso.
A
luz e a escuridão são o centro de toda trama, assim como é o próprio Farol -
ora faz luz ora faz sombra. Assim, a proximidade ou distância da luz demonstram
o contraste e o perigo dos excessos. Também revela toda a dubiedade deixada
pela relação de disputa dos dois, a complexidade humana, o medo da
similaridade, o reflexo do desejo nos olhos do outro. Numa dessas zapeadas, achei
uma referência interessante sobre esse filme - a Psicóloga Mariana Anconi, ao
analisar o filme, diz: “O horror do
filme consiste no horror ao corpo. O corpo invadido pelo outro. Uma proximidade
que confunde e ultrapassa o espaço íntimo entre-dois a ponto de um deles não se
reconhecer no mar de identificações construídas ao longo da vida e, ainda, quem
sabe, dizer em algum ponto “me tornei quem eu mais temia…”⠀⠀

A
essa reflexão e às cenas que incitavam o erotismo e a obsessão pela luz,
refletem uma sede por saber, uma vontade de compreender o que está escondido e
é proibido, mas essa mesma luz, quando próxima demais, pode ser fatal e esse, meus
caros, pra mim, é a grande reviravolta do filme.
Pra
mim, foi uma experiência filosófica bacana demais, me deixou de fato bem presa do
início ao fim. A atuação do Dafoe simplesmente é
incrível, a que mais impressionou no ano passado, diga-se de passagem. Robert
Pattinson (me julguem)
está melhorando a cada filme e nesse ele me surpreendeu. Intrigante,
perturbador e estranho, o filme pode prender você ou pode fazer você detestá-lo
- é o tipo ame ou odeie, não tem meio
termo. Se eu fosse você, reservaria um tempo para conhecer essa belezinha
da sétima arte, mas vá com a cabeça aperta e os ouvidos atentos, e aproveite a
experiência, seja boa ou ruim, porque honestamente é sobre isso que o cinema é:
experimentação.
Afinal, nem toda sensação causada é pra ser boa, pode ser ruim também.
[1] Segundo o site
Omelete, A experiência é baseado no romance Black Box, de Mario Giordano (que
também assina o roteiro). Por sua vez, o livro tem como origem um incidente
acontecido na prestigiada universidade norte-americana de Stanford em 1971. Foi
lá que um grupo de pesquisadores teve de cancelar, depois de apenas 6 dias, uma
experiência idêntica na qual estudantes se passaram por guardas e prisioneiros.
O motivo foram os intensos efeitos psicológicos que a pesquisa teve tantos nas
cobaias quanto nos cientistas. A versão ficcional de Hirschbiegel extrapola o
assunto, com a proposta de verificar o que aconteceria se o processo não fosse
cancelado antes de começar a dar errado.

REFERÊNCIAS

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