O FAROL

By | setembro 10, 2020 Leave a Comment
LANÇAMENTO = 02 de janeiro de 2020
DIREÇÃO: Robert Eggers
ROTEIRO: Robert Eggers e Max Eggers
ELENCO: Robert Pattinson; Willem Dafoe; Valeriia Karaman

SINOPSE: Início do século XX. Thomas Wake (Willem Dafoe), responsável pelo farol de uma ilha isolada, contrata o jovem Ephraim Winslow (Robert Pattinson) para substituir o ajudante anterior e colaborar nas tarefas diárias.

AUTORA do TEXTO: Vanessa Paiva
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Entre gaivotas, o mar, contos de marinheiro, dois sujeitos e um farol que é trabalhado o filme visualmente. A princípio achei um filme bastante silencioso - há bastante tensão no início do momento em que arparam o barco até os jantares iniciais. O filme evolui de uma maneira absurda, considero que além de inusitado ele é visceral - aquelas duas pessoas ali, convivendo cotidianamente sobre tensão, e toda aquela masculinidade reprimida e repressora, porque não?

Claro, ambientado em meados do século XX, a forma como as pessoas lidavam com seus sentimentos era indubitavelmente com muito distanciamento e discrição. Para mim, honestamente, ver dois seres confinados dia a dia presos em uma ilha, sem o luxo do convívio externo, é uma grande experiência sociológica. Há, sim, essa disputa insana por poder e por controle. Há períodos de aproximação, cooperação e, até, diversão, o que bem de longe me lembra um pouco Das Experiment (2001)[1], no contexto de confinamento, por que são filmes com propostas bem distintas, mas que retratam bem a dinâmica do convívio e isolamento.


Ali, são dois seres vivenciando o extremo, o que há de melhor e o que há de pior, permeando o desejo de forma intensa em suas vidas, seja pelo ocultamento, pelos segredos ou pela vontade, descobrimento e curiosidade. O contexto de “O Farol” pode ser enxergado pela ótica da filosofia sobre o caminho da iluminação. As facetas, ainda mais visíveis e assustadoras, pela impressão causada pela iluminação, e as cores preto e branco dão vida ao filme uma grande riqueza de detalhes para cada cena.

É um paradoxo! Há momentos que você pensa que são delírios dos personagens ou frutos da imaginação deles. O enredo gira em torno do escravo e seu mestre, essa relação que às vezes se confunde entre submissão e dependência, até porque um precisa do outro, seja para realizar a mais simples tarefa ou para não enlouquecer diante um quadro de isolamento intenso.

A luz e a escuridão são o centro de toda trama, assim como é o próprio Farol - ora faz luz ora faz sombra. Assim, a proximidade ou distância da luz demonstram o contraste e o perigo dos excessos. Também revela toda a dubiedade deixada pela relação de disputa dos dois, a complexidade humana, o medo da similaridade, o reflexo do desejo nos olhos do outro. Numa dessas zapeadas, achei uma referência interessante sobre esse filme - a Psicóloga Mariana Anconi, ao analisar o filme, diz: “O horror do filme consiste no horror ao corpo. O corpo invadido pelo outro. Uma proximidade que confunde e ultrapassa o espaço íntimo entre-dois a ponto de um deles não se reconhecer no mar de identificações construídas ao longo da vida e, ainda, quem sabe, dizer em algum ponto “me tornei quem eu mais temia…”⠀⠀


A essa reflexão e às cenas que incitavam o erotismo e a obsessão pela luz, refletem uma sede por saber, uma vontade de compreender o que está escondido e é proibido, mas essa mesma luz, quando próxima demais, pode ser fatal e esse, meus caros, pra mim, é a grande reviravolta do filme.

Pra mim, foi uma experiência filosófica bacana demais, me deixou de fato bem presa do início ao fim. A atuação do Dafoe simplesmente é incrível, a que mais impressionou no ano passado, diga-se de passagem. Robert Pattinson (me julguem) está melhorando a cada filme e nesse ele me surpreendeu. Intrigante, perturbador e estranho, o filme pode prender você ou pode fazer você detestá-lo - é o tipo ame ou odeie, não tem meio termo. Se eu fosse você, reservaria um tempo para conhecer essa belezinha da sétima arte, mas vá com a cabeça aperta e os ouvidos atentos, e aproveite a experiência, seja boa ou ruim, porque honestamente é sobre isso que o cinema é: experimentação. Afinal, nem toda sensação causada é pra ser boa, pode ser ruim também.




[1] Segundo o site Omelete, A experiência é baseado no romance Black Box, de Mario Giordano (que também assina o roteiro). Por sua vez, o livro tem como origem um incidente acontecido na prestigiada universidade norte-americana de Stanford em 1971. Foi lá que um grupo de pesquisadores teve de cancelar, depois de apenas 6 dias, uma experiência idêntica na qual estudantes se passaram por guardas e prisioneiros. O motivo foram os intensos efeitos psicológicos que a pesquisa teve tantos nas cobaias quanto nos cientistas. A versão ficcional de Hirschbiegel extrapola o assunto, com a proposta de verificar o que aconteceria se o processo não fosse cancelado antes de começar a dar errado.

REFERÊNCIAS


TRAILER: https://www.youtube.com/watch?v=aJoGdiyvdYs
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